Rui Nogar
XICUEMBO
eu bebo suruma
dos teus ólho Ana Maria.
eu bebo suruma
e ficou mesmo maluco
agora eu quere dormir quere comer
mas não pode mais dormir
mas não pode mais comer
suruma dos teus ólho Ana Maria
matou socego no meu coração
oh matou socego no meu coração
eu bebeu suruma oh suruma suruma
dos teus ólho Ana Maria
com meu todo vontade
com meu todo coração
e agora Ana Maria minhamor
eu não pode mais viver
eu não pode mais saber
que meu Ana Maria minhamor
é mulher de todo gente
é mulhar de todo o gente
todo gente todo gente
menos meu minhamor
[303]
sexta-feira, fevereiro 29, 2008
terça-feira, fevereiro 26, 2008
domingo, fevereiro 10, 2008
Rui Knopfli
O ESCRIBA ACOCORADO
Sentado na pedra de ti próprio,
não tens rosto, senão o que,
de anónimo, a ela afeiçoou
a mão que assim te quis. Do resto,
do que de individualidade, porventura,
em ti existiria, se encarregou
a persistente erosão dos dias. De vago,
neutro olhar sem órbitas, permaneces
hirto, fitando sempre mais além
da morna penumbra que te envolve
no halo intemporal que é, do tempo,
o nexo único. Nesse olhar
de não ver tudo se inscreve,
repensa e adivinha: teus limites
e, ainda, o que excederia tua humana
estatura. Sem contornos, em sombra
e sono te diluis no que, de ti,
nunca saberemos. Porém, límpida
e escorreita, até nós chega a laboriosa
escrita que no papiro ias lavrando.
[301]
O ESCRIBA ACOCORADO
Sentado na pedra de ti próprio,
não tens rosto, senão o que,
de anónimo, a ela afeiçoou
a mão que assim te quis. Do resto,
do que de individualidade, porventura,
em ti existiria, se encarregou
a persistente erosão dos dias. De vago,
neutro olhar sem órbitas, permaneces
hirto, fitando sempre mais além
da morna penumbra que te envolve
no halo intemporal que é, do tempo,
o nexo único. Nesse olhar
de não ver tudo se inscreve,
repensa e adivinha: teus limites
e, ainda, o que excederia tua humana
estatura. Sem contornos, em sombra
e sono te diluis no que, de ti,
nunca saberemos. Porém, límpida
e escorreita, até nós chega a laboriosa
escrita que no papiro ias lavrando.
[301]
quarta-feira, fevereiro 06, 2008
Júlio Carrilho
(SER MWANI)
Não é que ser mulato me abra as portas:
é preciso que se tenha aprendido a beber
esse saber da praia
qualquer que seja a dor que se transporta.
A Guerra aqui não se reproduz. Sofre-se.
A escravatura aqui não se aprimora. Degrada-se:
na sabedoria dos escravos
na subtileza do servir dos servos
na paciência dos barcos adornados
Tudo sucumbe no equilíbrio sustentável
da intriga
viscosamente escrutinada nas sub-ilhas de murmúrios
dos quintais fechados
[300]
(SER MWANI)
Não é que ser mulato me abra as portas:
é preciso que se tenha aprendido a beber
esse saber da praia
qualquer que seja a dor que se transporta.
A Guerra aqui não se reproduz. Sofre-se.
A escravatura aqui não se aprimora. Degrada-se:
na sabedoria dos escravos
na subtileza do servir dos servos
na paciência dos barcos adornados
Tudo sucumbe no equilíbrio sustentável
da intriga
viscosamente escrutinada nas sub-ilhas de murmúrios
dos quintais fechados
[300]
terça-feira, fevereiro 05, 2008
Helder Macedo
PARTES DE ÁFRICA (excerto/6)
Uma noite o guarda da praia apareceu lá em casa, todo o caminho a corta-mato de bicicleta, a dizer esbaforido que havia um avião grande a querer flutuar na água. No trânsito de ele vir e de o meu pai ir, a tripulação tinha desaparecido (salva por outro hidroavião inglês?) mas o Catalina encalhara nas dunas de areia fina que separavam a prai do alto mar, e quando também lá fui no dia seguinte era uma cave de Aladino: máscaras com grandes tubos a sair da boca, capacetes de metal, pistolas, chocolates, os instrumentos mais bizarros. Foi tudo selado para os senhores da capitania, mas ainda fui a tempo de provar o chocolate, que afinal era uma sensaboria que sabia a sopa, e assustar o cão com uma máscara.
[299]
PARTES DE ÁFRICA (excerto/6)
Uma noite o guarda da praia apareceu lá em casa, todo o caminho a corta-mato de bicicleta, a dizer esbaforido que havia um avião grande a querer flutuar na água. No trânsito de ele vir e de o meu pai ir, a tripulação tinha desaparecido (salva por outro hidroavião inglês?) mas o Catalina encalhara nas dunas de areia fina que separavam a prai do alto mar, e quando também lá fui no dia seguinte era uma cave de Aladino: máscaras com grandes tubos a sair da boca, capacetes de metal, pistolas, chocolates, os instrumentos mais bizarros. Foi tudo selado para os senhores da capitania, mas ainda fui a tempo de provar o chocolate, que afinal era uma sensaboria que sabia a sopa, e assustar o cão com uma máscara.
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