Alberto de Lacerda
MANDIMBA METÓNIA VILA CABRAL
Infância triste mas encantada
Em casas grandes muito sombrias
Outras crianças não as havia
Os meus amigos? Dois grandes gatos
A luz o vento a água a água
Se alguém tocava velho e roufenho
O gramofone de manivela
Eu perturbava-me e a quem me via
Com lágrimas que não entendia
Havia festas de vez em quando
Eram janelas do paraíso
Lembro os adultos. Como eram estranhos
Como eram estranhos e imprevistos
Como eu sentia que não sei onde
Um outro reino de festa e luz
Inteiramente me pertencia
E só de longe naquelas casas
Naquela gente que me era fria
Muito por alto se reflectia
[181]
sexta-feira, outubro 28, 2005
quarta-feira, outubro 19, 2005
quinta-feira, outubro 13, 2005
Rui Knopfli
PIRÂMIDE. 7
Salvo o recorte da cidade,
ângulos e linhas secas,
arestas cinzentas cortando
a palidez indecisa.
Salvo com nitidez
isso e nada mais:
Um perfil rígido
de tristes tons esmaecidos.
Salvo esse desenho morto,
esses silêncios desabitados,
sem cores, sem vozes,
sem árvores. Isso guardo
e nada mais, a imagem
doente do espaço
outrora habitado.
[179]
PIRÂMIDE. 7
Salvo o recorte da cidade,
ângulos e linhas secas,
arestas cinzentas cortando
a palidez indecisa.
Salvo com nitidez
isso e nada mais:
Um perfil rígido
de tristes tons esmaecidos.
Salvo esse desenho morto,
esses silêncios desabitados,
sem cores, sem vozes,
sem árvores. Isso guardo
e nada mais, a imagem
doente do espaço
outrora habitado.
[179]
quinta-feira, outubro 06, 2005
João Paulo Borges Coelho
SETENTRIÃO / IBO AZUL (excerto/2)
Mais adiante, o quintal de njungo Santinho waMucojo, onde gerações de maçanicas amarelas e vermelhas se deixavam engelhar ao sol como a pele que esse velho teria se hoje fosse vivo, espalhadas sobre as esteiras, exalando a luxúria do seu cheiro. E onde castanhas de caju polidas como pedras preciosas se alinhavam nos tabuleiros, pequeno exército disciplinado e brilhante. Uma banca à porta, onde o povo vinha comprar o lanho ao preço que fosse, o aroma das mangueiras manchando o ar, as galinhas debicando ou dormitando nos ramos baixos das árvores, o bico escondido entre as asas. As vozes soltas das mulheres, as gargalhadas sacudindo-se, os chamados golpeando. Gente ordenando e acatando em português antigo ou em kimwane límpido como a água da cisterna. Fresco e escuro como ela.
[178]
SETENTRIÃO / IBO AZUL (excerto/2)
Mais adiante, o quintal de njungo Santinho waMucojo, onde gerações de maçanicas amarelas e vermelhas se deixavam engelhar ao sol como a pele que esse velho teria se hoje fosse vivo, espalhadas sobre as esteiras, exalando a luxúria do seu cheiro. E onde castanhas de caju polidas como pedras preciosas se alinhavam nos tabuleiros, pequeno exército disciplinado e brilhante. Uma banca à porta, onde o povo vinha comprar o lanho ao preço que fosse, o aroma das mangueiras manchando o ar, as galinhas debicando ou dormitando nos ramos baixos das árvores, o bico escondido entre as asas. As vozes soltas das mulheres, as gargalhadas sacudindo-se, os chamados golpeando. Gente ordenando e acatando em português antigo ou em kimwane límpido como a água da cisterna. Fresco e escuro como ela.
[178]
Subscrever:
Mensagens (Atom)